Fluir em sintonia – por Marco Almeida

O caminho das possibilidades e a autoexigência

O caminho das possibilidades está sempre disponível, todo o tempo, mas a autoexigência faz-nos querer controlar os acontecimentos para que sigam a direção que queremos. Contudo a vida segue, tal como uma mulher grávida não pode controlar a evolução do seu bebé, não pode dizer: ‘hoje desenvolve-se um braço, amanhã o nariz …’, não é assim, a vida simplesmente segue o seu caminho. O determinismo, a autoexigência ‘mata’ e a vida trata de descobrir, des – cobrir, ou seja, remover o que cobre.

Ponto de vista

Quando dizemos: ‘não necessito de ti Mamã (ou não és suficiente Mamã)’, ficamos desconectados. Se há um trabalho que devemos fazer é olhar a Mãe, qualquer área profissional é demasiado pesada se não olhamos a Mamã.

O trabalho sistémico requer um contexto, tem a ver com expandir o olhar, olhar de forma ampla, desenvolver um pensamento múltiplo, sempre a perguntar: ‘Na realidade o que me estás a dizer?’

É um pensamento em espiral, sempre a fazer perguntas para estar em contato com o outro, no seu contexto. Se eu olho para o meu parceiro fora do seu contexto familiar então não o vejo, tenho de olhar o meu parceiro e para todo o seu contexto familiar, tenho de desenvolver pensamento sistémico.

Nada do que fazemos está errado, não devemos arrepender-nos do passado porque tudo foi por algo, com pensamento linear, mecanicista, não podemos aprender física quântica, para isso temos de ter pensamento sistémico.

A vida é quântica, com energia, e por isso precisamos de pensamento sistémico. Quando eu quero que a minha vida seja como eu quero, não funciona porque é o meu ponto de vista, é um ponto, não tem contexto, mas esse ponto de vista defendo-o com capa e espada porque creio que é a verdade. E depois encontro alguém com o seu ponto de vista e argumentamos cada um com o seu ponto de vista, não chegamos a lugar nenhum.

Educação – Fluir em sintonia

O milagre da educação é o que descobrem as crianças e o que descobrimos nós com elas! Quando chegamos com um objetivo e só observamos o objetivo, não o atingimos. O melhor a fazer quando temos um objetivo é guardá-lo e fazer como as crianças, deixar a vida acontecer. Se não colocamos expetativas, as coisas são como são e tudo é fácil, deixamo-nos fluir em sintonia.

A pedagogia sistémica trata de expandir o olhar, olhar de forma ampla, de contextualizar, de ver todo o mapa do metro! E sem olhar para a nossa família (o nosso mapa) estamos perdidos.

Onde estou? Estou num ponto, num lugar e só posso evoluir de acordo com a minha história, com o que está resolvido, e por vezes cremos que o que não está resolvido fica para a próxima ‘temporada’.

Ampliar o olhar significa olhar para tudo sobre a minha Mãe, olhar para tudo sobre o meu Pai. Quando há dois Pais, um biológico e outro adotivo, que história devemos olhar? A que o sistema permite, por vezes as duas, e dão-se milagres sistémicos.

Sobre os professores e o seu papel fundamental, se um professor não ‘olha’ para os Pais, não pode fazer nada pelos alunos (esta é a máxima das máximas). Os professores são efémeros e tudo o que fazem é para os Pais dos alunos, e o importante é tirar a expectativa sobre o futuro, parar de falar sobre o futuro. O professor é efémero, entra e sai, e o aluno fica com os Pais, os professores trabalham para os Pais através dos filhos (alunos), trabalham o presente! Interessa o presente!

O professor precisa de olhar para os Pais e dizer: ‘É por vocês, trabalho e faço-o por vocês!’

Reconhecer Limites

Fazer tudo com o coração e reconhecer os meus limites, a arte de ajudar significa reconhecer os meus limites, respeitar a 1ª ordem da ajuda, ou seja, não dar algo que não tenho pois quando o faço ultrapasso os meus limites e ao mesmo tempo obrigo o outro a romper os seus limites. Quando respeito os limites acontecem milagres sistémicos, para isso solto os meus pontos de vista e deixo de querer ser herói. Não posso olhar para a vida dos outros sem olhar para a minha primeiro.

Os melhores no pensamento sistémico são os biólogos porque estão habituados a observar os ecossistemas e a realidade já lhes diz tudo. Se um sistema tem margem de liberdade e pode mover-se, é sustentável, mas se o sistema é restringido perde sustentabilidade. O que Bert Hellinger faz é dar graus de liberdade ao sistema. Bert diz: ‘Reconhecer o que é!’

Quando quero restringir algo o processo explode! Quando digo: ‘Vou fazer-te feliz’ e vivemos em função disso, o processo não funciona, explode! Os sistemas adaptam-se, evoluem.

Bert diz: todos atuamos por amor, quando culpamos paralisamos. A grande descoberta de Bert Hellinger é a boa e a má consciência. Vínculo e consciência estão intimamente ligados, porque temos uma necessidade profunda de vinculação, a boa consciência leva-nos a amar só o nosso sistema familiar. A má consciência leva a amar os outros sistemas.

Antidoto da tristeza

Sobre as ordens do amor ou princípios básicos de vida, temos o Pertencimento (que nos traz a noção de tempo e de lugar), a Hierarquia (determina a função no sistema), e o Equilíbrio (entre dar e receber). A alma é a informação interna que levamos connosco, é a essência. Porque estamos na vida sem noção dos princípios básicos de vida precisamos de formação, de aprender e sobretudo de aplicar os princípios básicos de vida. Bert diz: ‘qual o antidoto da tristeza? É aprender!’.

Conhecer os Pais é uma aventura única e quando não conhecemos um ou os dois, a informação deles está presente em nós, na nossa alma. O melhor presente que as mães podem dar aos filhos é entrega-los ao papá. O campo de informação está sempre connosco e atua ou sim ou… sim! A liberdade é pequena (Bert Hellinger), mas quando a tomamos é grande.

Eu conheço a minha mãe e o meu pai! Não conheço o marido da minha mãe nem a mulher do meu pai. A minha mãe como mãe é ótima e o meu pai como pai é ótimo. Também não conheço os filhos dos meus pais, conheço os meus irmãos.

Angelica Olvera diz: ‘Não há mulheres fáceis para elas próprias! Somos difíceis connosco. Crescer é ter paz com o que somos’.

A natureza

A natureza dos homens é sair e ir buscar outros territórios, mas por outro lado sentem-se muito frustrados por não conseguirem tirar as mulheres do seu campo de dor, torna-se insuportável e têm de partir. Por esta razão muitos filhos vivem sem os pais e é tão difícil ser homem nestas circunstâncias.

O que sente um filho nestas circunstâncias? Apesar disto tudo aqui estou!

E agora como faço? Assumo uma posição de poder e assim posso tomar decisões!

E como me sustenho? Com o álcool, com o ‘espirito do vinho’! E assim surgem as dependências.

Em situações de guerra, quando os homens sobreviventes regressavam já não havia pai ou filho, sem o pai para se susterem viravam-se para o álcool, para os computadores, para a internet, obsessivamente, e assim seguem sem pai.

Pela positiva trabalham em ONGs, estão ao serviço.

Pensamento Sistémico

Como desenvolver este pensamento sistémico? Não podemos ter o nosso ponto de vista pois um ponto de vista tira-nos o pensamento sistémico. O ponto de vista fecha a mente e o coração e assim não há aprendizagem. Quanto mais defendo um ponto de vista mais estou em depressão porque estou em luta.

Encontro a serenidade quando respeito o contexto, pecado é fazer algo contra mim mesmo, é fazer algo fora do lugar. No meu caso sustentava a minha Mãe à base de conflitos (por amor) porque assim a mantinha ‘viva’. Fi-lo por amor cego, o amor claro vê o contexto, vê o marco histórico, requer soltar o ponto de vista e é um trabalho muito difícil, mas se o fazemos facilita-nos muito a vida.

No amor cego digo, ‘Mamã não te vejo a ti, vejo a mamã que eu quero que sejas’, e as mães com frequência pagam um preço elevado para que os filhos sejam bem-sucedidos, tudo tem que ser visto no seu contexto, caso contrário tudo é censurado, o mais fácil é criticar, dar sentenças.

A arrogância também é um ato de amor (cego), quando dizemos: eu por ti mamã/papá, eu faço por ti!

Adquirir maestria para viver a vida

Ter alguém ao nosso lado é um presente da vida, e temo-lo sobretudo quando temos filhos. Neles o casal está presente para sempre. Quando não há filhos o vínculo fortalece-se quando há respeito pelo destino um do outro. O vínculo debilita-se com a exigência, a exigência é uma falta de respeito, falta de respeito também ao nosso sistema e ao do outro!

As relações necessitam de equilíbrio, cuidar as relações é a arte da vida.

Como ensinar as crianças a fortalecer os vínculos? O ponto mais importante é ensinar a fortalecer os vínculos e cuidar as relações, sendo o vínculo mais importante a fortalecer, o que temos com a mãe pois é o ponto de partida da vida.

Os filhos amam os seus pais mesmo quando há abuso ou maus-tratos, é o princípio básico de Bert Hellinger. Devemos ter a noção de que em cada família cada caso é um caso e um maltrato tem uma função diferente em cada caso. Quando começa a violência de género? Quando a mãe diz: Ah, o teu pai!

Os filhos na adolescência têm de ‘reclamar’, é sua função para se encontrarem, e assim se vão separando do seu sistema, nutrindo-se com a escola e com os amigos. Quando um filho diz aos pais que os odeia a tradução é: ‘preciso de encontrar-me’. Mais tarde quando regressa a casa (o regresso do herói), e ocupa o seu lugar, acontecem milagres sistémicos, porque o seu lugar é o menos visitado.

Ser sistémico é reconhecer os vínculos, reconhecer o que me fortalece a ti e a mim!

Separação não significa exclusão, às vezes tenho de me separar porque por exemplo o campo da mãe é demasiado denso e tenho de ir para me desenvolver.

Num casal o homem não pode resolver as questões do sistema da mulher e vice-versa, o que podem fazer é aprender com o que cada um mostra ao outro pois mostram o que falta no sistema de cada um. Depois cada um volta-se para o seu sistema e diz: ‘ali mostram-me o que nos falta, por favor permitam-me tomar, é para todos, é um presente, ali não há ameaça’.

Na relação um não pode ver o sistema do outro porque é o espaço do outro, então o que fazer? Dar pequenos passos até que se encontrem e agora sim é o espaço dos dois. O grande presente de uma relação é que o outro me mostra algo que me falta.

Os casais são cúmplices na vida: eu salvo-te e tu salvas-me. Às mulheres basta que façam a sua parte para que os homens tomem a sua força. Os homens não precisam de ajuda para tomar a sua força, basta que as mulheres façam a sua parte.

Na vida é importante fechar ciclos, assuntos, completar. Por vezes damos assuntos por completos mas na alma não estão completos. Dizer sim, assim como foi é perfeito, e esquecer o que devia ter sido! O que foi, como foi, está perfeito!

Confiar no movimento, não podemos fazer-nos responsáveis pela vida dos outros, senão soltamos a nossa vida. Quando aceito o que foi e como foi e está completo, declaro: Está completo! E assim vou adquirindo serenidade. Quando declaro algo completo na minha alma logo algo novo se abre.

Por vezes os casais ‘completam-se’ ou seja, as pessoas vêm com uma missão, cumprem-na e vão-se embora e a relação termina. Nestes casos agradecemos. Em todos os lugares em que estivemos, tivemos um lugar, e agradecemos.

A relação com a mãe, contudo, jamais está completa, é um trabalho para toda a vida, todos os dias, todas as horas. Toma-se a mãe 3 vezes por dia depois de cada refeição.

Se tenho uma relação difícil com a mãe tenho uma relação difícil com a vida. Quando alguém diz: ‘A vida deve-me algo’, a tradução é: ‘A mãe deve-me algo’. O que surge com esta atitude? Dificuldades e doenças.

Mãe, Dinheiro e Vida são energias similares, se tenho uma relação sã com a Mãe, assim terei com o Dinheiro e com a Vida!

Marco Almeida.

Posted on: 22 Abril, 2021