Quarentena – Covid-19

Por Marco Almeida

Quarentena

Por definição ‘Quarentena’ é a denominação dada ao método de evitar a propagação de doenças infeciosas por isolamento das pessoas, mercadorias, animais, aviões, barcos e outros veículos provenientes de regiões infetadas com determinadas doenças contagiosas. De início, a quarentena correspondia a quarenta dias de isolamento (daí a denominação), mas os atuais conhecimentos sanitários permitem que esse período seja limitado ao tempo de incubação da doença suspeita.

Isolamento Social

Em Portugal fala-se em medidas de isolamento social, as pessoas que eventualmente tenham estado em contacto com o novo coronavírus estão em isolamento social profilático voluntário, que requer a permanência no domicílio com restrições de visitas.

Sendo Portugal um país cujo povo é conhecido pela capacidade de demonstrar afeto (é impensável encontrar um familiar ou amigo sem que de imediato surja um abraço caloroso, claro que há exceções, mas que acabam por confirmar a regra), não foi de admirar a existência de “indícios” de haver pessoas que não estarão a respeitar a situação de quarentena em que se encontram, no âmbito do surto de Covid-19.

Consequência

As pessoas que não cumprirem o isolamento social decretado pelas autoridades de saúde devido à doença covid-19 podem ser punidos com uma pena de prisão até cinco anos, segundo o Código Penal, e indica que se a conduta for praticada por negligência existirá uma punição com pena de prisão até três anos ou com pena de multa. O Plano Nacional de Preparação e Resposta à doença pelo novo coronavírus prevê que as autoridades de saúde possam ordenar “o isolamento coercivo” em “situações extremas” e de recusa do doente ou suspeito.

Limites

A exigência de uma situação como a atual, remete-nos para a exigência que temos de nós mesmos e que vem do passado, e como lidamos com a vida desde a nossa posição faz-nos compreender que quando estamos no nosso lugar podemos tomar o nosso próprio valor.

Por outro lado, procurar realizar que os limites me aproximam do outro, da essência do outro, e quando não coloco limites acabo por me afastar do outro porque me aborreço, porque não digo o que me molesta. Quando coloco limites posso ser como sou, real, e assim posso continuar a encontrar-me com o outro, e se não for possível encontrar-me com o outro, continuo bem.

Um limite é um ato de amor, quando me coloco um limite é um ato de amor por mim, protejo-me. Quando coloco um limite ao outro, é um ato de amor pelo outro, protejo o outro.

Colocar limites nesta época é fundamental, para o nosso bem e para o bem do outro, é um limite colocado por amor, um amor maior e que privilegia o bem comum.

Reconhecer um limite é reconhecer que a minha liberdade é pequena, mas quando o reconheço, tomo a liberdade tal como se apresenta, e ela torna-se grande.

Contudo, para muitos vemos que os limites são difíceis de respeitar porque no seu íntimo, nas profundezas da sua alma, os limites avivam memórias difíceis de processar, talvez porque determinados movimentos permanecem interrompidos e assim respeitar um limite passa a ser uma tarefa hercúlea.

Movimento interrompido

O movimento interrompido corresponde de uma forma geral ao retraimento emocional de uma criança, perante a indisponibilidade emocional da sua mãe ou do seu pai. Pode surgir desde o momento do parto, por exemplo se a mãe teve de receber cuidados médicos urgentes e o bebé não pôde regressar ao seio materno nos momentos seguintes ao parto. Pode ser causado pela perda real do progenitor, da sua separação ou da sua ausência emocional. Também, por exemplo, se a criança ficar internada durante algum tempo num hospital e isso resultar numa interrupção de contacto entre ela e os seus pais, porque eles não a podem visitar, esta situação pode originar uma interrupção do movimento de aproximação por parte da criança. O mesmo se aplica se for a mãe a adoecer.

Também se nos pais existe uma implicação sistémica e toda a sua energia é utilizada na procura de um equilíbrio no sistema de origem, a sua qualidade de pais não está disponível para a criança.

Quando um dos pais está ausente, é possível aliviar o movimento interrompido se o outro progenitor o tratar com respeito e honra e falar sobre ele, em frente à criança, de maneira carinhosa. O amor profundo, leva o filho a querer fazer qualquer coisa pelos seus pais. E se estes o impedem ou desvalorizam os seus esforços ou o seu carinho, o amor pelo progenitor ausente converte-se em dor. A observação fundamental e importante é que a dor emocional é amor interrompido e que esta dor é, na realidade, outra faceta do amor. Se esta dor é de tal forma intensa, a criança quer deixar de a experimentar e deixa de tentar aproximar-se dos seus pais, e rejeita por completo qualquer tentativa de aproximação, porque tudo o que quer é proteger-se da dor. Não tem nada de bom a dizer sobre os pais, interrompe o contato ou não sente nada em relação a eles.

Contudo, esta é uma estagnação, pois o amor entre os pais e a criança deixou de fluir.

Reflexão

Inicia-se hoje em Portugal (uma data no mínimo interessante, sexta-feira, 13 de março de 2020), um período de quarentena, que durará pelo menos até 31 de março, com o intuito de contribuir para a prevenção do contágio do coronavírus.

São conhecidas as regras, e as consequências, quer do ponto de vista da saúde quer do ponto de vista legal, para quem as quebrar.

Aproveitemos este tempo de maior isolamento para regressar às origens, e reestabelecer o vínculo com a(s) geração(ões) anterior(es), em particular com relação aos pais, com quem os vínculos são tanto mais fortes quanto maior for a acusação, raiva ou deceção. Esta é uma viagem interna em que, enquanto adultos, podemos dar um novo significado e gravar uma nova imagem na nossa alma, através de uma meditação ou visualização.

Aproveitemos para fortalecer os vínculos com os nossos filhos, por um lado atenuando algum movimento interrompido que possa ter existido, por outro libertando-os de qualquer expetativa que possamos ter em relação a eles, e favorecendo o seu empoderamento dentro dos limites de um convívio familiar saudável.

Aproveitemos também para refletir como estamos em relação aos limites, os nossos e os que nos são impostos por força das circunstâncias. Lutamos contra estes limites ou tomamos a liberdade neles contida, tornando-a grande para nós? (Vale a pena relembrar que dentro do sistema familiar, o papel da ordem, da rigidez, dos limites e da autoridade vem do Pai).

Para terminar, estamos preparados para as consequências das nossas escolhas, para aceitar a realidade tal como é, e os desafios que nos traz, com os pés bem assentes na terra?

Com gratidão,

Marco Almeida

Posted on: 13 Março, 2020